A primeira edição de Deve-se queimar Beauvoir? aconteceu em Julho de 2016 no cursinho popular Mafalda para um público formado por dez jovens de idades entre 16 e 20 anos. Os quatro encontros ocorreram em uma mesma semana – no período de realização de cursos de férias da instituição – e tinham duração de duas horas cada.
As garotas e um único garoto participantes receberam a proposta com bastante entusiasmo e curiosidade. Apenas uma aluna havia lido Beauvoir e algumas tinham referências sobre a autora a partir das discussões sobre feminismo em grupos de redes sociais. O público sustentou um olhar crítico às frases sobre e atribuídas a Beauvoir desde o primeiro encontro, olhar que foi retrabalhado e aprimorado ao longo da oficina.
Ao final da experiência ficou claro que não se tratou apenas de um compartilhamento dos conhecimentos de uma pesquisa acadêmica com jovens, mas também da criação de um espaço seguro para que as meninas pudessem expor e interpretar à luz da filosofia de Beauvoir as suas próprias experiências vividas como mulheres. Além do foco no tornar-se mulher e no trabalho de uma mulher, fortalecemos o interesse pela reflexão filosófica como estímulo do pensamento crítico sobre a atualidade.
Após a estréia no Curso Mafalda, Deve-se queimar Beauvoir aconteceu em Setembro e Outubro do mesmo ano na Biblioteca Mário de Andrade e, em 2017, nas unidades do SESC SP Santana (Março/Abril) e Centro de Pesquisa e Formação (Maio/Junho). Nestas edições os encontros ocorreram semanalmente com carga horária de 3 horas/dia. Cada turma era formada por, em média, dez pessoas, jovens e adultos – a maioria era mulheres. Por tratar-se de encontros semanais, houve oportunidade para as alunas e os alunos lerem com mais tempo e mais atenção antes da aula seguinte os fragmentos de textos trabalhados.
Diferente da experiência no Curso Mafalda, o público nestas ocasiões apresentou pontos de vista mais sólidos, muitas vezes fundamentados nos estudos de sua formação adquirida em cursos de ensino superior. Nas rodas de conversa, posicionamentos contrários foram revelados, mas sem caráter de disputa, e sim com a possibilidade de tornarem-se complementares. Em alguns grupos experiências pessoais foram compartilhadas em sintonia com o tema estudado.
Desde a primeira edição, trabalhos como desenho, bordado, colagem, texto dissertativo e poema tem sido apresentados no último encontro da oficina. Mais do que esse retorno em uma linguagem criativa, podemos considerar como resultado da oficina o exercício de reflexão em grupo que preserva o espaço de cada presente e enfatiza a importância da escuta.
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